25 de outubro de 2011

Por que eu não deveria mais aguentar ver aquele mendigo perto da minha casa?


O evangelho tem uma preocupação social. Ela é muito maior do que enriquecer pastores, muito maior do que pedir bênçãos individualistas (“Deus, eu quero um carro.”), muito maior do que exigir bênçãos (“Deus, eu quero um carro para que o nome do Senhor seja louvado! Afinal de contas, meu vizinho tem um e nem crente é!”); muito maior do que um investimento seguro em uma poupança super rentável (“Deus, estou fazendo jejum todo domingo para você me dar um carro! Mas vou fazer um jejum das 6hs as 18hs, por que quero um carro importado”).

Não, o cristianismo tem preocupações muito maiores do que essas. Muito mais do que achar que Deus vai dar mais, devemos observar a realidade da sociedade injusta em que vivemos e a consciência da responsabilidade de atuarmos com amor nela. Mas como?

“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17)

Fazer em nome é fazer como se possuísse um mandato. Se o autor da bíblia fosse o mesmo que o autor do Código Civil brasileiro, ele teria dito algo assim: “Você recebeu de Jesus poderes para praticar atos como se fosse Ele! A procuração que você recebeu é a própria Bíblia! Mas não extrapole os poderes que lhe foram concedidos, nem deixe de usá-los.” Então, tudo o que fizer, devo fazer como se fosse Jesus que estivesse fazendo... todavia, se não o conheço, ou simplesmente repito frases bonitas de pregações, essa afirmação fica meio vaga.

As vezes é meio difícil materializar esse amor. Essa forma de agir de Cristo, um amor do criador e de conservação. Como ele reagiria vendo um homem deitado na esquina, com fome? Bem, poderia tanto cuspir no barro e fazer um bolo de fubá ou poderia simplesmente ir a um menino e pedir uns peixes. E eu, como devo reagir?

É possível conhecer uma das essências de Deus: ele é caridade – ou, em algumas bíblias, amor (1 Jo 4: 7 -21). Se devemos praticar atos em nome dEle, devemos agir de acordo com que Ele é, ou seja, amor, se não estaríamos contrariando o mandato que eles nos deu. Isso é lógico: se eu tenho uma procuração de um cruzeirense, irei comprar camisas do galo com os poderes que me foram dados? Não faz sentido, pois contraria a essência da pessoa. Se você não for capaz de amar, não conhece a Deus e não o representa nessa terra.

O amor-caridade é um dos frutos do espírito (Gl 5.22-23) e uma evidência do novo nascimento (1 Jo 3:10). E é algo que temos a responsabilidade de desenvolver. De fato, João nos exorta amar uns aos outros, buscando o bem estar dos demais. Não se trata de um amor platônico ou de facebook (onde todo mundo ama todo mundo, mas ninguém ama ninguém), mas um amor capaz de se doar, de se entregar, de se rebaixar para o bem do próximo. Não é um simples sentimento de boa-vontade, mas uma decisão dispositiva e prática.

Um amor desse tipo, um amor de um criador, conseguiria ver alguém deitado no meio da rua, mendigando? Conseguiria ver políticos comprando votos de pessoas pobres de forma direta ou indireta? Conseguiria ver alunos em escolas públicas que apenas preenchem os horários, sem elevar o conhecimento teórico dos mesmos? Conseguiria? Se até sua mãe – com todo respeito – ficaria revoltada se algo assim estivesse ocorrendo com você, imagine nosso Deus.

Pensar em um amor desses parece meio platônico. Entretanto, o platonismo não pode ser desculpa para que o amor esteja agarrado apenas no adesivo no fundo de um carro... Essa é a verdadeira responsabilidade social do cristão: a efetiva demonstração do amor de Deus através de nossas vidas para com as pessoas dessa terra. Devemos entender o papel do cristão em nosso mundo, fazer com que esse amor que tanto temos dito faça sentido.